Assim que o pé tocou no
primeiro degrau da imensa escadaria, o coração disparou.
Como nunca tinha
disparado.
Como se quisesse bater fora do peito e tivesse vida própria.
Não tinha dúvidas, pelo
contrário, a certeza de que este homem era o seu homem, é que tornava este
momento o mais importante da sua vida em cada degrau subido.
Deu por si com uma vontada
esbaforida de viver toda a vida que tinha pela frente.Agora. Ali. Sem esperar
nem mais um minuto.
Mais um degrau. E ainda
estava tudo tão longe. Como é que ia aguentar sem desatar a correr?
E outro... e outro..e outro
mais...
E lá estava... Ele, o homem,
o seu homem, de postura elegante mas firme de quem veio para ficar.
Parou na entrada da porta e
o coração voltou ao seu peito. Mesmo a Igreja estando cheia com as centenas de
presenças que anteriormente eram imprescendíveis, naquele instante era só ela e
aqueles olhos de avelã que afixaram e conduziam.
A loucura da chegada deu lugar a uma paz subita, sabia que
ali começava tudo o que de fantástico iriam acontecer na sua vida e queria
desfrutar ao segundo e manter cada gesto e sensação na memória para que um dia
pudesse contar ao seus netos, timtim por timtim como foi o dia mais feliz da
sua vida.
Enquanto o caminho até ao altar encurtava, a garantia do viveram felizes para sempre aumentava.
Chegara finalmente! Pareciam que tinham passado horas desde
que o pé tinha tocado no primeiro degrau.
Lado a lado, como os bonecos que tinham escolhido para o bolo... Mas aqui era real, bem real....
Foram precisos 3 anos desde
o dia em que se conheceram até ao grande momento.
Na verdade já se tinham
cruzado várias vezes antes do primeiro olá. No meio do rebuliço do metro à hora
de ponta, já sabiam que o primeiro que chegasse ficaria à espera junto à 2º
carruagem mesmo sem nunca o terem combinado. Aqueles 7 min de viagem antes da
paragem dela enchiam o dia de ambos.
Obra do acaso ou destino marcado, viram-se
obrigados em dia de greve a fazer o caminho, pé ante pé. Nunca mais se
largaram.
Estava farto que lhe perguntassem
se estava nervoso!
Por que raio haveria de estar nervoso, ia casar porque
queria, porque acrediva que ela era sua companheira, ninguém o obrigara.
A mãe já tinha vindo a arranjar o nó da gravata para lá de muitas vezes mesmo com ele dizendo que estava tudo bem enquanto se ria do estado de ansiedade da senhora.
Vieram avisá-lo que tinha de
entar, ela estava a chegar e se havia recomendações que ele tinha de seguir à
risca, não ver a noiva antes de ela chegar à porta da igreja era garantidamente
uma delas.
Pôs-se a postos na calma que
já lhe era conhecida. Ouviu por entre sussuros “ já está a subir os degraus”.
Continuava seguro de si e
sem tremer os joelhos, conheciam-se bem, sabia bem que a amava como nunca tinha
amado nenhuma outra e que ela tinha em si o homem da sua vida.
Olhou para o nó da gravata e
ajeitou-a.
E ali estava ela... A sua
mulher amada.
Deixou de se reconhecer...
Calma, calma, repetia vezes sem conta na sua cabeça. Não percebia o que é que
se estava a passar, de repende a igreja pareceu imensa. Apeteceu-lhe gritar:
Corre!!! Anda!!! Estou à tua espera!!!
Sentia-se dentro de um filme
mudo, sabia que alguma coisa estava a tocar e que as pessoas estavam em
burburinho mas não conseguia ouvir nada. A não ser os seus passos suaves cada vez
mais perto e a batida do seu próprio coração.
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