quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O ínício

Assim que o pé tocou no primeiro degrau da imensa escadaria, o coração disparou. 
Como nunca tinha disparado. 
Como se quisesse bater fora do peito e tivesse vida própria.

Não tinha dúvidas, pelo contrário, a certeza de que este homem era o seu homem, é que tornava este momento o mais importante da sua vida em cada degrau subido.
Deu por si com uma vontada esbaforida de viver toda a vida que tinha pela frente.Agora. Ali. Sem esperar nem mais um minuto.
Mais um degrau. E ainda estava tudo tão longe. Como é que ia aguentar sem desatar a correr?

E outro... e outro..e outro mais...

E lá estava... Ele, o homem, o seu homem, de postura elegante mas firme de quem veio para ficar.
Parou na entrada da porta e o coração voltou ao seu peito. Mesmo a Igreja estando cheia com as centenas de presenças que anteriormente eram imprescendíveis, naquele instante era só ela e aqueles olhos de avelã que afixaram e conduziam.
A loucura da chegada deu lugar a uma paz subita, sabia que ali começava tudo o que de fantástico iriam acontecer na sua vida e queria desfrutar ao segundo e manter cada gesto e sensação na memória para que um dia pudesse contar ao seus netos, timtim por timtim como foi o dia mais feliz da sua vida.

Enquanto o caminho até ao altar encurtava, a garantia do viveram felizes para sempre aumentava.

Chegara finalmente! Pareciam que tinham passado horas desde que o pé tinha tocado no primeiro degrau.

Lado a lado, como os bonecos que tinham escolhido para o bolo... Mas aqui era real, bem real....
Foram precisos 3 anos desde o dia em que se conheceram até ao grande momento.
Na verdade já se tinham cruzado várias vezes antes do primeiro olá. No meio do rebuliço do metro à hora de ponta, já sabiam que o primeiro que chegasse ficaria à espera junto à 2º carruagem mesmo sem nunca o terem combinado. Aqueles 7 min de viagem antes da paragem dela enchiam o dia de ambos.

Obra do acaso ou destino marcado, viram-se obrigados em dia de greve a fazer o caminho, pé ante pé. Nunca mais se largaram.
Estava farto que lhe perguntassem se estava nervoso!

Por que raio haveria de estar nervoso, ia casar porque queria, porque acrediva que ela era sua companheira, ninguém o obrigara.

A mãe já tinha vindo a arranjar o nó da gravata para lá de muitas vezes mesmo com ele dizendo que estava tudo bem enquanto se ria do estado de ansiedade da senhora.

Vieram avisá-lo que tinha de entar, ela estava a chegar e se havia recomendações que ele tinha de seguir à risca, não ver a noiva antes de ela chegar à porta da igreja era garantidamente uma delas.

Pôs-se a postos na calma que já lhe era conhecida. Ouviu por entre sussuros “ já está a subir os degraus”.
Continuava seguro de si e sem tremer os joelhos, conheciam-se bem, sabia bem que a amava como nunca tinha amado nenhuma outra e que ela tinha em si o homem da sua vida.

Olhou para o nó da gravata e ajeitou-a.
E ali estava ela... A sua mulher amada.

Deixou de se reconhecer... Calma, calma, repetia vezes sem conta na sua cabeça. Não percebia o que é que se estava a passar, de repende a igreja pareceu imensa. Apeteceu-lhe gritar: Corre!!! Anda!!! Estou à tua espera!!!
Sentia-se dentro de um filme mudo, sabia que alguma coisa estava a tocar e que as pessoas estavam em burburinho mas não conseguia ouvir nada. A não ser os seus passos suaves cada vez mais perto e a batida do seu próprio coração.


Ver os seus olhos negros brilharem ali ao seu lado, trouxe-o de volta. Estava ali para ficar.



Sem comentários:

Enviar um comentário