Subiu as escadas e não podia acreditar que
isto lhe estaria a acontecer…
Se isto fosse um filme, este seria o
momento em que alguém carregou no freeze!
O coração estava suspenso por uma
linha quase transparente de tão ténue. Tinha mesmo acabado e desta vez não eram
só ameaças.
O pânico de ver metade do roupeiro vazio, transformou-a numa louca
pela casa, a abrir gavetas e armários, com os olhos vidrados prontos a largar
uma dor tão funda como nunca tinha conhecido.
Ele tinha realmente ido embora!
Foi-se deixando cair no fundo da cama até
se enrolar sobre si própria e sobre o seu sofrimento. O mundo podia acabar
neste preciso momento que lhe era indiferente.
Aliás o seu mundo tinha
terminado neste preciso momento.
Nunca acreditou que ele tivesse a coragem de a
deixar e levar com ele a vida que ela respirava e na realidade nunca o entendeu
quando lhe dizia que já não queria continuar junto dela. Na sua cabeça ouvia um
dialecto diferente, imperceptível aos seus ouvidos mas principalmente
desconhecido da sua alma.
Que raio de conversa era aquela, que queria
fazer outras coisas na vida, que ela já não o atraía, que já não gostava dela
da mesma maneira. Aonde é que ele ia buscar estas ideias. "Tu andas é a
trabalhar demais" dizia lhe sempre como modo de terminar ali o assunto e
com a esperança que ele se esquecesse de todo aquele disparate.
Mas agora era a sério.
Ele já não estava lá
para ela o dissuadir. Tinha ido e sem deixar rasto nem vontade de voltar.
Deixou-se ficar envolvida na escuridão e no
meio de tantas lembranças, fotos e objectos que outrora foram motivo de tantos
beijos e abraços.
Acreditava que se não se mexesse um
milímetro e fechasse os olhos, o caos acabaria e tudo voltaria à normalidade.
E ali ficou, embrulhada na ilusão, involuntariamente
incapaz de olhar à volta.
Apenas ficou.
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