Se estivesse nos
tempos de escola era tão mais fácil. Pedia a uma amiguinha para lhe entregar
uma folhinha de cheiro com a pergunta mágica.
Mete uma X no certo. Queres sair comigo?
Sim
Não
Talvez
Ou então
escreveria na porta da casa de banho A+M= Love forever e
esperava que alguém lhe fosse contar.
Mas os tempos de
escola já tinham acabado e as folhinhas já tinham perdido o cheiro. Foram apresentados
por um amigo comum num bailarico lisboeta na noite de Sto. António e por entre majericos,
sardinha assada e dezenas de pessoas, os seus olhos insistiam em se cruzar num
ritmo constante. Provavelmente levados por uma coragem movida a sangria sentaram-se
na soleira duma porta, a dissertar sobre as dúvidas e as certezas da vida. Como
se se conhecessem desde o minuto um das suas histórias.
Numa noite em que
não há horas, o relógio parou só para eles. Choraram a rir e riram de chorar.
As mãos
tocavam-se por intuição enquanto se revelavam segredos nunca antes escutados. E
o mais engraçado é que ela nem queria ir à festa… Não era que não gostasse
deste tipo de festejo, bem pelo contrário, mas estava cansada e apetecia-lhe
ficar quieta. Mas quando se tem os amigos na entrada do prédio ou sim ou sim.
Sabia que era um
pensamento piroso mas na sua cabeça pairava a ideia e o sensibilidade, de que,
efectivamente, TINHA de ir aquela festa! E claro que nunca mais iria duvidar
das graças do Sto. António.
Nos primeiros
raios de sol, trocaram números de telemóvel, acreditando que tudo o que viveram
na noite passada não poderia ser só efeito de um ou outro copito a mais.
Recostada no
sofá, dava voltas e voltas à cabeça, para inventar a forma brilhante de usar o
número que tinha recebido. Não queria ligar e fazer figura de tola, no caso de
ele não ter sentido o mesmo, muito menos fazer cobranças por já terem passado
quase 24h e ele não ter dito nada. Mas também sabia que não podia simplesmente
fingir que nada acontecera e quem sabe deitar à rua a oportunidade de ser
verdadeiramente feliz.
Perdeu a conta ao
número de vezes que agarrou e soltou o telemóvel e que escreveu e apagou mensagens.
Decidiu larga-lo
novamente na esperança de serenar e com toda a calma do mundo tentaria escrever
alguma coisa.
Mas mais tarde, agora não.
O som do aparelho
a cair na mesa misturou-se com o bip da mensagem recebida.
Pelo menos um
deles já sabia o que escrever passado 24h.
Mete uma X no certo. Queres sair comigo?
Sim
Não
Talvez
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