quinta-feira, 5 de março de 2015

Bailarico

Se estivesse nos tempos de escola era tão mais fácil. Pedia a uma amiguinha para lhe entregar uma folhinha de cheiro com a pergunta mágica.

Mete uma X no           certo. Queres sair comigo?
       Sim
       Não
       Talvez

Ou então escreveria na porta da casa de banho A+M= Love forever e esperava que alguém lhe fosse contar.

Mas os tempos de escola já tinham acabado e as folhinhas já tinham perdido o cheiro. Foram apresentados por um amigo comum num bailarico lisboeta na noite de Sto. António e por entre majericos, sardinha assada e dezenas de pessoas, os seus olhos insistiam em se cruzar num ritmo constante. Provavelmente levados por uma coragem movida a sangria sentaram-se na soleira duma porta, a dissertar sobre as dúvidas e as certezas da vida. Como se se conhecessem desde o minuto um das suas histórias.

Numa noite em que não há horas, o relógio parou só para eles. Choraram a rir e riram de chorar.
As mãos tocavam-se por intuição enquanto se revelavam segredos nunca antes escutados. E o mais engraçado é que ela nem queria ir à festa… Não era que não gostasse deste tipo de festejo, bem pelo contrário, mas estava cansada e apetecia-lhe ficar quieta. Mas quando se tem os amigos na entrada do prédio ou sim ou sim.

Sabia que era um pensamento piroso mas na sua cabeça pairava a ideia e o sensibilidade, de que, efectivamente, TINHA de ir aquela festa! E claro que nunca mais iria duvidar das graças do Sto. António.
Nos primeiros raios de sol, trocaram números de telemóvel, acreditando que tudo o que viveram na noite passada não poderia ser só efeito de um ou outro copito a mais.





Recostada no sofá, dava voltas e voltas à cabeça, para inventar a forma brilhante de usar o número que tinha recebido. Não queria ligar e fazer figura de tola, no caso de ele não ter sentido o mesmo, muito menos fazer cobranças por já terem passado quase 24h e ele não ter dito nada. Mas também sabia que não podia simplesmente fingir que nada acontecera e quem sabe deitar à rua a oportunidade de ser verdadeiramente feliz.

Perdeu a conta ao número de vezes que agarrou e soltou o telemóvel e que escreveu e apagou mensagens.

Decidiu larga-lo novamente na esperança de serenar e com toda a calma do mundo tentaria escrever alguma coisa. 
Mas mais tarde, agora não.
O som do aparelho a cair na mesa misturou-se com o bip da mensagem recebida.

Pelo menos um deles já sabia o que escrever passado 24h.

Mete uma X no           certo. Queres sair comigo?
      Sim
      Não
     Talvez 


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