domingo, 2 de agosto de 2015

Enredo

Desde miúda que se habituara a ler romances de cordel e apesar de saber que estas histórias só existem no papel, lá no fundo, bem escondido e secreto vivia a esperança de um dia viver um amor arrebatador!

Nunca tinha tido coragem de mostrar a ninguém a sua grande colecção de livros e folhetins, muitos deles oferecidos pela tia avó que lhe incutiu o gosto pela leitura.
Sabia que não tinha mal nenhum mas não conseguia deixar de sentir uma pontinha de vergonha e de achar que se iriam rir e achá-la ridícula.

Não se iludia no dia a dia mas naqueles momentos, embrenhava-se naquele mundo paralelo e permitia-se viajar, divagar e até por instantes ser umas das personagens que conhecia tão bem como se se tratassem de suas amigas de infância.
Vivia cada livro com todas as suas emoções e sensações.sem se prender ao que achava certo ou errado. Permitia-se a muito mais do que alguma vez o fizera na vida a cores.

Já se tinha envolvido em alguma relações, umas mais conseguidas do que outras e neste momento até estava numa chamada fase boa mas mesmo assim não conseguia por de lado as vidas que a faziam sair da sua. Por vezes tinha a sensação que estava a trair a sua história, como se o facto de ler os seus romances fosse um protesto sobre o que estava a viver. Mas acreditava que não, na realidade sentia-se muito bem na sua pele. Encontrara alguém que a compreendia, que a preenchia e com quem tinha vontade de partilhar sonhos e projectos.

Mas a ideia de largar os seus amigos de papel assustava-a, era como se senti-se em casa cada vez que abria um dos seus livros, mesmo os que estavam forrados para que ninguém se apercebe-se do que estava a ler.



A tarde já ia alta quando tocaram à campainha e deixaram um embrulho à porta. Intrigada, começou lentamente a desdobrar o papel colorido que cobria um caderno e uma caneta, sentia que estava a viver uma das cenas que tanta vez lera e relera.
Soltou uma gargalhada enquanto lhe corriam as lágrimas pela cara. Não viu quem lhe deixara a prenda mas também não precisava, sabia perfeitamente!

Na primeira página, ele rabiscara:
"Para criares o nosso romance de cordel!"

Agora sim, seria a protagonista desta história, com muitas páginas por escrever!

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